Encontro de Estudos Bakhtinianos
| EEBA 2017
RESISTÊNCIAS À ESCATOLOGIA POLÍTICA:
narrativas, corpos e risos enunciando uma ciência outra
CAMPINAS | UNICAMP | De 16 a 18/11/2017
Considerando as manifestações humanas narrativas, corporais ou risíveis, como modos que enunciam uma ciência outra, de caráter heterocientífico, propomos quatro eixos temáticos para o IV EEBA: (1) "Narrativas"; (2) ”Corpos" (corporeidade); (3) "Riso" (o risível) como modos de expressão e produção de conhecimentos e de materialidades constitutivas da (4) “Heterociência”.
EIXOS TEMÁTICOS
Nesse eixo, se propõe estudar o aspecto ético do ridículo, do grotesco, do irônico, do risível com o outro, como forma de resistência às culturas dominantes. A transformação do que é caro e estimado em algo que provoca o riso é por si um ato ético. Apesar da indústria cultural tentar impor padrões, ressurgem algumas manifestações populares – como o carnaval de rua em contraposição aos carnavais televisionados. Da mesma forma, o humor ganha força, não só como alívio cômico às tensões do dia a dia do mundo da vida, mas também como crítica social. E, se a crítica não vem pelo riso, vem por sua antítese complementar: o drama. A força do riso e do drama – atos expressivos da nossa subjetividade e da nossa alteridade – dão forma à resistência contra a institucionalidade e contra o poder monopolizante, assim como à diversidade de apropriação e manifestação de conhecimento. É importante estudar também como novas mídias tecnológicas desempenham o seu papel na difusão e na democratização desses atos risíveis-responsivos.
HETEROCIÊNCIA
Os objetos dos três eixos anteriores são vivências expressas e objetivações exteriores que organizam e dão forma a elas definindo sua orientação. A lingüística, como campo específico que estuda a linguagem verbal descreve o verbal mediante o verbal, porém, também os signos não verbais podem ser descritos em signos verbais ou não verbais. Assim, corpos, risos, narrativas são propostos como enunciados concretos com leis específicas e que tocam milhares de linhas dialógicas vivas envoltas em consciências socioideológicas, necessitando de uma outra ciência, como orienta Bakhtin. Nesse eixo, propõe-se fazer dessas três formas vivenciadas de expressão – e tantas outras quanto couberem – materialidade e/ou percurso para produção de conhecimentos, na medida em que percorrer ou transitar por elas pode possibilitar o reconhecimento dos contextos e das relações para estudar o mundo da vida, onde, com os outros, se produz cultura (Ciências, Filosofia, Artes, Cotidianidades). A produção de sentidos, conhecimentos e Ciências não depende exclusivamente da reprodutibilidade, não depende da enunciação de sujeitos que tentam em vão se ausentar, nem das tentativas sempre frustradas e frustrantes – isso quando não deliberadamente hipócritas – de insistir num pensamento que se espraia somente dentro de um objetivismo abstrato ou de um subjetivismo idealista. Uma nascente heterociência pode ser encarada como o ativismo do cognoscente e do cognoscível, a vontade de abraçar os conhecimentos de modo conscientemente subjetivo, porém essencialmente alteritário, dinâmico e sempre a se completar de possibilidades axiológicas e semânticas, na construção de pravdas e questionando as istinas.
NARRATIVAS
Nesse eixo, a ideia é trabalhar o estudo de narrativas produzidas nas relações que estabelecemos com os outros e com o mundo cultural, assim como sua importância como fonte e como meio de produção de conhecimento. Um exemplo forte – mas nem de longe o único exemplo ou a única possibilidade –, que cada vez mais ganha força em alguns estudos é o fato das produções narrativas possibilitarem a inserção dos narradores no campo da filosofia da linguagem bakhtiniana. Essa inserção é possível porque as narrativas se tornam um ato responsivo de cada sujeito em interação com os outros e também com outras e novas teorias, que passam a ser compreendidas e fazer sentidos na vida dos narradores. Além disso, ao narrar – pensando nos aspectos da alteridade/interação e da continuidade, quiçá a experiência – percebe-se a possibilidade do narrador se colocar num lugar exotópico, dando acabamento estético provisório ao vivido e vislumbrando horizontes de possibilidades no presente orientadas pelas memórias de futuro. Diante disso, nesse eixo, as narrativas serão postas em diálogo com as obras bakhtinianas que estudam mais especificamente a linguagem, mas também o ato responsável/responsivo.
RISO
CORPOS
Nesse eixo, a ideia é tratar especialmente da produção da atividade estética, com a metáfora dos corpos sensíveis, que põem e expõem seus conhecimentos e valorações na produção e na reprodução de si enquanto ato responsivo/responsável nos mundos da vida e da cultura. Tratar da possibilidade de produção objetiva que caracteriza a atividade estética em geral, na cultura popular das modas, das tatuagens, das tribos, dos corpos expostos na internet em redes sociais, do grotesco dos corpos transformados ou em transformação na vida, no cinema de ficção, na literatura, na música, nas práticas corporais, nos movimentos Hip-hop, nos grafites, nas danças, nas percussões corporais, enfim, corpos/gestos/atos que, em diferentes contextos, no exercício do excedente de visão, na relação estética eu-outro, são marcados e atravessados por diversos sentidos que constituem suas gestualidades, corporeidades e, em ato, respondem, resistem, transgridem e dialogam com outros corpos, outras gestualidades, outros mundos.